O MEU GURI
Chico Buarque
Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
e eu não tinha nem nome para lhe dar
Como fui levando não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
e na sua meninice ele um dia me disse
que chegava lá, olha aí!
Olha aí, ai o meu guri, olha aí,
Olha aí, é o meu guri e ele chega.
Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente para me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço,
Que haja pescoço para enfiar!
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí!
Olha aí...
Chega no morro com o carregamento,
pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador.
Rezo até ele chegar cá no alto
essa onda de assalto tá um horror!
Eu consolo ele, ele me consola,
Boto no colo pra ele me ninar,
de repente acordo, olho pro lado
e o danado já foi trabalhar, olha aí!
Olha aí...
Chega estampado, manchete, retrato,
com venda nos olhos, legenda e as iniciais.
Eu não entendo essa gente, seu moço,
fazendo alvoroço demais.
O guri no mato, acho que tá rindo,
acho que tá lindo de papo pro ar.
Desde o começo eu não disse, seu moço?
Ele disse que chegava lá, olha aí
Olha aí...
“A exclusão social começa muito cedo, muito antes de o bebê nascer. A exclusão social tem raízes na pobreza, na moradia inadequada, na doença crônica e no longo período de desemprego. São negados às crianças nascidas na pobreza os recursos e as oportunidades disponíveis para as outras crianças. Algumas delas enfrentam obstáculos adicionais por causa de seu gênero, da sua raça, da sua religião ou de sua deficiência. Embora a maioria cresça em famílias amorosas, que se preocupa, que desejam realmente uma vida melhor para elas, muitas crianças que vivem na pobreza começam e terminam sua infância em um estado de exclusão social e de baixa performance educacional e continuam experimentando o desemprego, a pobreza e a doença ao longo de suas vidas como adultos. O desafio para a nossa sociedade é afrouxar e romper a força da pobreza que estrangula o desenvolvimento de nossas crianças.”
Mittler, P., in Educação inclusiva - contextos sociais -1ª ed.- Artmed - 264 pág.
Vídeo com a música de Chico Buarque:
Postagem realizada por Renato Costa